Como se não bastasse, a IASD publicou uma terceira nota oficial na sexta-feira passada. Na verdade, duas e meia, porque uma delas foi quase oficial e já não está mais disponível online. Com isso, lembrei-me da citação “A Bíblia é uma bigorna que tem gasto muitos martelos” (GC 288.2). A preocupação da igreja é compreensível, a saber, salvaguardar os membros de possíveis heresias; atribuamos a melhor das intenções. Aqui vão os motivos pelos quais não é necessário preocupação: “pelos frutos os conhecereis”. Qual a tendência dos ensinamentos dos produtores da Bíblia White? Santificar ou vulgarizar? Elevar a norma ou dissolver a doutrina? Exaltar a Palavra ou defender o achismo? Por mais que certos pontos de vista, que passaram a ser acariciados pela liderança no transcorrer das décadas, sejam golpeados frontalmente sem misericórdia, nenhum fundamento é ferido; pelo contrário, é afirmado.
As mudanças no texto bíblico não foram arbitrárias. O comunicado falha em mencionar que a norma de tradução, usada na Bíblia White, foi a King James Version em inglês, a versão mais utilizada pela profetisa. Não foram mudanças arbitrárias de acordo com a convicção pessoal de Daniel Silveira, mas o texto sempre foi comparado com a King James Version, a melhor versão do ocidente moderno. Sim a melhor.
Mudanças na King James: autorizadas por Deus. É importante, porém, mencionar que não somos adeptos do movimento “King James Only”, que prega a inerrância do texto. Portanto, em três lugares, a própria profetisa diz que deve haver mudança na própria King James:
- Lucas 23:45 ‒ Certo: “te digo hoje, estarás comigo no paraíso”. Errado: “te digo: hoje estarás comigo no paraíso”. Assim diz o Senhor: “Em verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso. Cristo não prometeu que o ladrão estaria com Ele no Paraíso naquele dia. Ele próprio não foi naquele dia para o Paraíso. Dormiu no sepulcro e, na manhã da ressurreição, disse: ‘Ainda não subi para Meu Pai’. João 20:17. Mas no dia da crucifixão, o dia da aparente derrota e treva, foi feita a promessa. ‘Hoje’, enquanto morria na cruz como malfeitor, Cristo dava ao pobre pecador a certeza: ‘Tu estarás comigo no Paraíso’” (DTN 531.1). Mas como alguns dos leitores dão mais peso à palavra de um doutor do que a da profetisa, aqui um artigo do Dr. Timm e outro do Pr. Paroschi em inglês, mostrando a validade da versão KJV “te digo hoje”.
- Salmo 91:11 ‒ Certo: “Para te guardarem em todos os Seus caminhos”. Errado: “Para Te guardarem em todos os teus caminhos”. EGW diz: “isto é, em todos os caminhos da escolha de Deus” (DTN 531.1).
- Daniel 8:12 ‒ Certo: “contínuo”. Errado: “sacrifício contínuo”. Diz a profetisa: “Vi então em relação ao ‘contínuo’ (Daniel 8:12), que a palavra ‘sacrifício’ foi suprida pela sabedoria humana, e não pertence ao texto, e que o Senhor deu a visão correta àqueles a quem deu o clamor da hora do juízo” (PE 74.1).
Diante da palavra do Senhor, quem ousa contra-argumentar? Ponha cada um a mão sobre a boca (Jó 40:4).
O testamento de Ellen G. White nomeia várias pessoas para administrar seus escritos, para guardá-los e usá-los sabiamente. O testamento não menciona beneficiários, mas a existência de depositários (mordomos) implica a existência de beneficiários. No entanto, em carta a um dos depositários, a profetisa revela quem são os verdadeiros beneficiários de seu legado:
“Meus escritos são conservados em arquivo no escritório, e mesmo que eu não deva viver, essas palavras que me têm sido dadas pelo Senhor terão vida ainda e falarão ao povo” (ME1 55.5 – Carta 371 de 1907 a Wilcox). O IBC e IAGE, portanto, são advogados dos verdadeiros beneficiários dos escritos de Ellen G. White: o povo, que a tem em alta estima.
Prioridade. Se a IASD houvesse publicado uma Bíblia com comentários de Ellen White (o que ela não desencorajou em nenhum escrito), certamente não seria produzida a Bíblia White. Como a igreja optou por publicar uma Bíblia Andrews com comentários de eruditos e doutores, ficou claro que ela não produziria outra Bíblia para competir com a Andrews.
A rua Silveira. O White Estate não pode mais ser detentor dos direitos autorais, pois esses já expiraram! É como se a prefeitura desapropriasse minha fazenda, fizesse ruas e praças nela, etc., e eu tentasse impedir o trânsito, bradando: “Parem, parem! Esse terreno é de meu pai, parem! Meu pai é quem tem os direitos sobre essa rua. A rua até leva o nome dele, não estão vendo aqui a plaquinha de rua? Portanto, eu, como seu filho, tenho o direito de impedir o trânsito nos horários que me atrapalham”.
Absurdo! Mas é isso que o White Estate está tentando fazer: reter os direitos que o braço público já declarou ser do povo. Portanto, além de Deus, o Estado também afirma o direito do povo sobre os escritos da Sra. White. “Pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato” (Dt 19:15).
Permissão. De fato, Daniel Silveira não pediu permissão ao White Estate, justamente porque não é necessário. Temos que pedir permissão a Deus, pois os escritos são de Deus para o povo, os escritos são dos membros. São nossos! “Que nenhum homem seja colocado em posição onde possa dominar sobre a herança do Senhor, pois isso põe em risco tanto a alma do que domina como a daqueles que estão sob seu domínio” (LC 43.3). Sim, em última instância, o autor dos escritos inspirados é o próprio Deus, e a Ele cada um prestará conta no dia do juízo (1Pe 4:5). Repito, Deus é o autor dos escritos de Ellen G. White, e como não há nenhuma instrução divina contra uma Bíblia com comentários, seguimos em frente, e o resto é história. Seguimos nossa consciência. Quem não quiser comprar e preferir a Andrews, que fique com os comentários de mortais falíveis. Os que a adquiriram, já estão se deliciando com as palavras do Senhor, mais doces do que o mel e o destilar dos favos.